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morte sempre foi considerada uma questão cercada de mistério e incerteza para a humanidade, tanto que a tentativa de entender o que ocorre após a morte tem sido uma constante nas reflexões humanas, marcando a cultura e as práticas sociais de diferentes épocas e sociedades.Como afirmou a autora Bárbara Figueiredo em um artigo no blog Academia Médica: “A morte é um fenômeno universal, um ponto terminal e inevitável, porém, não é assim que a maioria dos indivíduos a encaram. É notório que o homem, ao longo do tempo, vem tentando e desafiando a morte, pois vencer a morte e alcançar a imortalidade sempre foi o anseio da humanidade.”

Cientistas criaram IA capaz de prever a morte com 78% de precisão

Por conta dessa necessidade dos seres humanos, qualquer notícia que faça referência ao assunto levanta interesse de vários segmentos e camadas da sociedade, sobretudo quando está relacionada à possibilidade de prever a finitude humana. Assim, a notícia de que cientistas criaram IA capaz de prever a morte humana com 78% de precisão, levanta diversas reflexões sobre seus impactos, inclusive no setor de seguros, na área médica e na sociedade em geral. Chamada de Life2vec, a IA foi desenvolvida por cientistas dinamarqueses e estadunidenses, e também pode determinar quanto dinheiro a pessoa terá quando a morte chegar.

Como a calculadora de IA funciona

Alimentada com dados de seis milhões de pessoas provenientes de registros demográficos e de saúde dinamarqueses, a calculadora de IA foi desenvolvida para prever o tempo de vida com base em uma ampla gama de informações, incluindo renda, profissão e histórico médico. Diferentemente de modelos como o ChatGPT, que preveem palavras em uma sequência de texto, o Life2vec utiliza esses dados para estimar a longevidade de uma pessoa. A operação do Life2vec baseia-se em pesquisas anteriores que identificaram fatores de vida associados à longevidade. Elementos como gênero, hábitos como fumar, condições de saúde mental e nível de renda foram codificados para permitir que a IA sintetizasse esses dados em “frases” que representassem de forma condensada a vida de uma pessoa. Assim, a IA combina essas informações para formar um “quebra-cabeça” que, de acordo com os cientistas, pode prever o tempo de vida de um indivíduo com uma precisão surpreendente. Em testes com pessoas entre 35 e 65 anos, metade das quais faleceu entre 2016 e 2020, o Life2vec acertou 78% das previsões sobre quem morreria ou sobreviveria.

Oportunidades para seguros

Com esse nível de eficácia nas previsões de um evento como esse, os impactos dessa tecnologia no setor de seguros podem ser extensos. Seguradoras de vida e saúde poderiam utilizar a precisão preditiva do Life2vec para ajustar suas apólices, oferecendo prêmios mais baixos para indivíduos com menor risco de morte. Por outro lado, isso levanta questões éticas sobre discriminação e privacidade, uma vez que a IA poderia ser usada para evitar a cobertura de indivíduos considerados de alto risco, tornando o seguro inacessível para aqueles que mais precisam. 

A tecnologia também permitiria a criação de novos produtos e serviços, como apólices sob medida para diferentes estágios da vida ou condições de saúde específicas. Além disso, o Life2vec poderia melhorar a gestão de riscos das seguradoras, ajustando suas reservas financeiras de acordo com as previsões, o que poderia aumentar a estabilidade do setor e reduzir custos para os consumidores.

Alguns possíveis desafios

Por outro lado, a precisão preditiva do Life2vec também pode trazer alguns desafios éticos e regulatórios. A possibilidade de discriminação contra pessoas em situações vulneráveis e o uso inadequado de dados sensíveis são preocupações centrais. Reguladores poderão precisar desenvolver novas leis e diretrizes para proteger os direitos dos consumidores e garantir que a tecnologia seja usada de forma justa e transparente.

Possibilidades para o Seguro Saúde

Para o Seguro Saúde, a Life2vec poderia permitir a personalização dos planos de seguro, oferecendo prêmios mais baixos para aqueles com perfis de saúde favoráveis. A IA também poderia ser usada para incentivar comportamentos saudáveis, oferecendo descontos em prêmios para segurados que adotem hábitos que prolonguem a vida, como exercício físico regular e alimentação saudável. As seguradoras também poderiam identificar de forma mais eficaz segurados em risco de desenvolver problemas de saúde graves, permitindo a implementação de programas de saúde preventivos e monitoramento proativo, o que reduziria a necessidade de tratamentos caros no futuro.

Melhoria na gestão de custos operacionais

A gestão de custos operacionais no Seguro Saúde também se beneficiaria da precisão do Life2vec. Ao prever com maior exatidão as necessidades de cuidados médicos, as seguradoras poderiam otimizar a alocação de seus recursos financeiros, reduzindo a necessidade de manter reservas excessivas e, potencialmente, oferecendo melhores benefícios aos segurados. 

Riscos para beneficiários do Seguro Saúde

É importante ressaltar que a mesma precisão que poderia trazer tantos benefícios também apresenta riscos. Seguradoras poderiam utilizar essas previsões para evitar a cobertura de indivíduos de alto risco, exacerbando desigualdades e tornando o seguro saúde inacessível para muitos. Além disso, as preocupações com a privacidade aumentam à medida que a coleta e uso de dados pessoais e médicos detalhados tornam-se mais comuns.

Transformações que podem salvar vidas no setor médico

No setor médico, o Life2vec pode trazer transformações ao ponto de salvar vidas. Sua capacidade de prever a morte com alta precisão poderia ajudar médicos a identificar pacientes em risco elevado de mortalidade, permitindo intervenções precoces, especialmente em doenças crônicas como câncer e doenças cardíacas. Além disso, em situações de sobrecarga, como durante pandemias, a IA poderia auxiliar na priorização de recursos, identificando quais pacientes necessitam de cuidados urgentes, melhorando a eficiência do sistema de saúde e salvando vidas. A previsão precisa da morte também poderia facilitar o planejamento de cuidados paliativos, oferecendo às famílias mais tempo para se prepararem para o final da vida, melhorando a qualidade de vida nos últimos dias dos pacientes. A contribuição do Life2vec para a pesquisa médica não pode ser subestimada; ao analisar grandes volumes de dados, a IA pode ajudar a entender melhor os fatores que contribuem para a mortalidade e a desenvolver intervenções inovadoras.

Tecnologia deve vir acompanhada de uma regulamentação específica que dê amparo aos segurados

Todos os benefícios potenciais explicitados acima vêm com desafios e riscos que devem ser avaliados e mitigados. A confiabilidade das previsões da IA, embora alta, não é infalível, e erros podem levar a decisões injustas, como negativações de cobertura ou cobrança de prêmios inadequados. As implicações éticas também são vastas, incluindo o risco de que as seguradoras priorizem o lucro sobre o bem-estar dos segurados, especialmente em casos de tratamentos caros para aqueles com expectativa de vida curta. Por isso, a aplicação dessa tecnologia deve vir acompanhada de uma regulamentação específica que dê amparo aos segurados.

É preciso ter equilíbrio entre os benefícios da inovação e a proteção dos direitos individuais 

O surgimento de uma tecnologia capaz de prever a morte com 78% de precisão traz consigo uma série de impactos positivos e negativos para o setor de seguros, para a sociedade e para a área médica. Para o setor de seguros e para a área médica, essa tecnologia promete tanto avanços importantes quanto desafios éticos e regulatórios. Para a sociedade como um todo, a adoção de uma IA que pode prever a morte levanta questões fundamentais sobre como os seres humanos lidam com o futuro, a privacidade e o valor da vida humana. Por isso, o equilíbrio entre os benefícios da inovação e a proteção dos direitos individuais será primordial para garantir que tecnologias como a Life2vec sejam usadas para promover o bem-estar de todos, não apenas de alguns. Ao avançar, será necessário um debate aberto e muito bem informado entre os setores e a sociedade para estabelecer a forma como essas tecnologias vão impactar o futuro coletivo.

Postado em
26/8/2024
 na categoria
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