setor de seguros frente às transformações climáticas
Em um cenário onde o clima global está passando por transformações significativas, a pauta das mudanças climáticas vem cada vez mais se intensificando. O derretimento das calotas polares, a elevação do nível do mar, o aumento da temperatura, são fatores que podem causar desequilíbrio. No Brasil e no mundo, é possível ver os riscos da interferência climática. Com isso, o setor de seguros ganha força, uma vez que trabalha em busca de fornecer proteção sobre os riscos derivados das alterações meteorológicas. A Susep, por sua vez, solicita às empresas maior transparência sobre os efeitos das mudanças climáticas, por meio da Circular nº 666, indicando a responsabilidade e conscientização acerca dos riscos ambientais.
A diminuição de acessibilidade ao setor causa preocupação
O acesso à contratação de seguro pode ser comprometido, uma vez que a ocorrência de sinistros podem aumentar devido aos riscos climáticos, superando o número de prêmios. Nesse cenário – conforme reflete a WayCarbon, empresa de consultoria e inovação tecnológica voltada à sustentabilidade – “um aumento do gap de proteção do risco e, com isso, de uma exposição maior de pessoas, empresas e governos aos impactos da mudança do clima.” Além disso, “a capacidade de oferecer linhas de negócios, como fiança e crédito a setores intensivos em carbono, também pode ser significativamente afetada com a adoção de políticas climáticas mais ambiciosas”.
O El Niño e seus efeitos
O fenômeno El Niño, que provoca uma oscilação natural e recorrente nas condições oceânicas e atmosféricas do Pacífico Equatorial, pode alterar drasticamente padrões meteorológicos, afetando diversos setores. O climatologista e coordenador geral de pesquisa e desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, afirmou que pesquisas indicam o aumento contínuo da temperatura oceânica, apontando alerta para os próximos anos e possíveis desastres, como ondas de calor intensas e enchentes.
Prefeitura do Rio de Janeiro lança plano para conter ações climáticas
A prefeitura do Rio de Janeiro, a fim de conter os efeitos decorrentes do El Niño, lançou no dia 16 de novembro um plano de verão, com objetivo de minimizar o impacto da ação de eventos climáticos futuros . Na última semana, nos dias 17 e 18 de novembro, o Rio de Janeiro registrou recorde de temperatura, superando 47ºC de sensação térmica. A situação ganhou ainda mais destaque devido a notícia da morte de uma jovem que estava presente no show da cantora Taylor Swift, em decorrência da exposição à alta temperatura dentro do Estádio Nilton Santos – Engenhão. Embora o Brasil não seja o foco de desastres provocados pela natureza, já é possível perceber que as mudanças climáticas estão começando a atingir diversos territórios ao redor do mundo, incluindo o brasileiro.
El Niño e o seguro rural
A contratação de seguro rural pode ser fundamental para o futuro do agronegócio em 2024. De acordo com notícia publicada pelo Sindseg SP, o El Niño tem provocado condições climáticas que tem sido alerta de risco. Joaquim Francisco Cesar Neto, presidente da Comissão de Seguro Rural da Fenseg, afirma: “Temos observado chuvas e secas, além de geadas de amplo alcance. Numa situação de perda de colheita, os produtores perdem duas safras, em geral, até voltar à ativa. Precisam recorrer a refinanciamentos bancários ou acabam por vender parte do patrimônio”. Como forma de contornar isso, o seguro rural pode ser acionado. Através de subsídios do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), o setor pode fornecer apoio aos produtores rurais, que podem ter a safra prejudicada devido à seca, por exemplo. Ou seja, com o aumento do subsídio, a proteção é maior e, por isso, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) solicitou aumento de investimentos para o setor, no início de 2023.
Alterações climáticas impactam o setor globalmente
As alterações climáticas impactam o setor em diversos lugares do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo,o segmento de seguro residencial passa por dificuldades após ocorrência de transtornos climáticos. O aumento do valor de contratação aos serviços securitários, e até mesmo a diminuição de empresas no mercado, estão afetando a adesão da população ao seguro residencial. A State Farm e a Allstate são exemplos de seguradoras que encerraram a emissão de apólices, devido aos riscos de incêndios florestais.
Alto custo de apólices dificulta a adesão
Michael Monaghan, agente imobiliário da Coldwell Banker Sellers Realty no norte da Califórnia, reflete: “Com a saída de muitas operadoras, isso deixa outras empresas subscrevendo essas apólices realmente caras”. Diante da escassez de empresas no setor e da consequente elevação nos custos, os consumidores acabam optando por não contratar serviços de segurança residencial. Amy Bach, diretora-executiva da United Policyholders,
A Flórida e a Louisiana têm enfrentado um drama extremo no seguro de propriedade há algum tempo, começando com o furacão Andrew em 1992 e depois com o furacão Katrina em 2005”. “A gravidade das tempestades e o preço dos reparos começaram a chamar a atenção das seguradoras.” No entanto, segundo Bach, as seguradoras não estão dispostas a reduzir os preços e, para ela, esse está sendo o motivo de luta. “São as alterações climáticas, a ressaca da Covid, a inflação e a tecnologia que permite às seguradoras avaliar os riscos de uma forma mais ampla. A sua organização, cujo foco principal era ajudar as pessoas afetadas por desastres a recuperar dinheiro das companhias de seguros, é dedicada, principalmente, a questões de disponibilidade e acessibilidade de seguros.”
Como as seguradoras podem enfrentar as mudanças climáticas
Frente às variáveis que desafiam o setor, o evento ITC DIA Europe Barcelona explorou a temática de inovações em produtos e serviços de seguros que podem apoiar as seguradoras perante o impacto das alterações climáticas. No que se refere ao uso de dados para ajudar as empresas nas declarações de riscos, Luís Sousa, líder de riscos e parcerias da Mitiga Solutions, indica a separação do problema em dois níveis. A primeira questão, para ele, se concentra na quantidade de dados disponíveis. “A questão é mais compreender como dar sentido a todos esses dados científicos e de conhecimento e destilá-los de uma forma que possamos fornecer algo que faça sentido para o cliente. Infelizmente, a maioria dos modelos climáticos, que têm resolução de 100-50 km, não permitem chegar ao nível de resolução espacial necessário para avaliar o perigo e o risco da sua propriedade, que é de cerca de 100 m.” O segundo problema, em contrapartida, são os países e regiões com poucos dados. “Para atacar esse problema, estamos aproveitando principalmente a modelagem baseada na física. Desta forma, podemos utilizar a resolução espacial do modelo climático e alargar essas análises, ao mesmo tempo que continuamos a ter em conta a física dos processos que tentamos avaliar.” Ele exemplifica a situação dos incêndios florestais e a intensificação dada ao fenômeno a partir das condições atmosféricas e do solo “Do ponto de vista físico, traduzimos essas variáveis e simulamos e estimamos qual é o perigo e o risco para aquela propriedade. Portanto, é uma combinação de modelagem baseada em física, IA e muita computação de alto desempenho, que podemos aproveitar porque somos um spin-off do Centro de Supercomputação de Barcelona e também temos uma parceria ativa com a Microsoft.”
Um caminho para o futuro
À medida que as transformações climáticas avançam, novas abordagens são necessárias para a manutenção do segmento de seguros. As condições climáticas têm o poder de atingir o setor, seja impulsionando ou dificultando o acesso. Com o potencial da indústria de seguros de mitigar os riscos e fornecer proteção, o estudo acerca de eventos climáticos futuros pode nortear as ações das empresas. Com isso, é importante que as seguradoras atentem para a necessidade de inovação, no intuito de garantir a sustentabilidade de suas operações e o atendimento eficaz às demandas dos segurados.