á muitos anos que os apontamentos a respeito das causas dos problemas ambientais recaem, indiscutivelmente, sobre os padrões insustentáveis de produção e consumo na sociedade. Por causa disso, há um debate social de décadas acerca de possíveis medidas de prevenção e recuperação em casos de incidentes ambientais.
Por que o mercado financeiro entrou no debate?
Porque eventos climáticos calamitosos podem ocasionar perdas financeiras significativas para as empresas. Por causa disso, os riscos relacionados a estes possíveis eventos podem ameaçar a estabilidade do sistema financeiro e causar impactos sociais e econômicos catastróficos.
Fatores ASG
ASG (Ambiental, Social e Governança) é uma sigla derivada da sigla em inglês ESG (“Environmental, Social and Governance”). Já “Fatores ASG” é um conceito adotado após as primeiras iniciativas do mercado financeiro relacionadas à sustentabilidade para referenciarem aspectos ambientais, sociais e de governança que poderiam acarretar não só em riscos, mas também em oportunidades de negócio.
Ênfase em fatores climáticos
Com a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, houve uma ênfase mais específica sobre fatores climáticos, principalmente os relativos à intensificação de danos físicos e à transição para uma economia de baixo carbono, onde se reduz ou se compensa a emissão de gases do efeito estufa.
A ASG é essencial na análise de riscos
Tudo o que está incluído no conceito de sustentabilidade vem recebendo maior atenção dos reguladores e do mercado financeiro nos últimos anos. E as questões ambientais, sociais e de governança passaram a ser consideradas essenciais nas análises de riscos e nas decisões de investimentos. Por isso, o setor de seguros passou a ter uma preocupação maior em direcionar investimentos no desenvolvimento de soluções para mitigar riscos.
SUSEP lançou consulta pública para regulamentar gestão de riscos ambientais
As seguradoras no mundo todo encaram o tema da sustentabilidade como prioritário, dado o alto impacto que pode afetá-las com o avanço de crises relativas a esse tópico. Aqui, no Brasil, as inundações são os desastres naturais de maior impacto econômico. Geram perdas anuais de US$1,4 bilhão, estimando-se que esse saldo negativo poderá atingir US$4 bilhões até 2030, afetando diretamente 43 milhões de pessoas, segundo estimativa da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
Preocupada com os danos ao meio ambiente e os prejuízos catastróficos que os desastres naturais podem causar, a SUSEP lançou, em dezembro de 2021, uma consulta pública (nº44/2021) com o objetivo de regulamentar a gestão dos riscos ambientais.
Essa consulta pública chancelou a necessidade de adoção de práticas sustentáveis em caráter de urgência e coloca o setor de seguros num papel de maior protagonismo para atenuar os efeitos das catástrofes naturais.
Alguns players já adotaram ações em consonância com as melhores práticas de ASG.
Parceria para lidar com os desastres naturais
A Tokio Marine e a ICEYE anunciaram uma parceria, em fevereiro deste ano, para colaborarem mutuamente em uma série de iniciativas destinadas a facilitar a transformação digital dos recursos de sinistros de seguros e desenvolver novos produtos e serviços de seguros para lidar com a crescente frequência e gravidade dos desastres naturais e o crescente impacto das mudanças climáticas.
Na ocasião, Masashi Namatame, Diretor Digital do Grupo Tokio Marine Holdings, comentou: “Trabalhamos com a ICEYE desde 2020 e desenvolvemos em conjunto uma solução de processamento de sinistros de seguro contra inundações que simplifica e permite uma entrega mais rápida de pagamentos de sinistros. Esta colaboração representa o forte compromisso da ICEYE e da Tokio Marine em tomar medidas e iniciativas positivas contra riscos adicionais”,
Desconto em apólices para incentivar práticas sustentáveis
A Alfa Seguros concede desconto na apólice para os clientes que praticarem ações como: reciclagem ou descarte sustentável, reutilização ou reaproveitamento da água (ou uso eficiente) e utilização de placas solares. Desconto é válido para consumidores que contratarem um seguro residencial, empresarial ou de condomínio e que tenham programas contínuos sustentáveis.
Descarte sustentável
A empresa também mantém parceria com uma empresa especializada em despojo de salvados e disponibiliza aos segurados um serviço de descarte sustentável.
Como funciona?
Em caso de sinistro, os clientes conseguirão realizar a destinação correta do item sinistrado e recebem um certificado que atesta a destinação ecologicamente correta daquele determinado item. Entre os itens que poderão ser destinados neste serviço estão:móveis e equipamentos eletrônicos contidos em uma residência, empresa ou condomínio, tais como: sofá, colchão, geladeira, mesa, cadeira, armário, fogão, televisão, computador, máquina de lavar roupa ou louça, por exemplo.
Alguns segmentos terão que enfrentar mudanças significativas para que consigam aplicar os conceitos ESG
Em entrevista para o panorama mercantil, um representante da Alfa Seguros disse que os maiores desafios da ESG na visão da Alfa é: “Em primeiro lugar, acredito que o maior desafio seja a mudança de mentalidade e a conscientização de todos os envolvidos nos nossos negócios, ou seja, é mostrar que não podemos continuar fazendo as coisas como antigamente. Superado este obstáculo, obviamente alguns segmentos terão que enfrentar mudanças significativas para que consigam aplicar os conceitos ESG em toda a cadeia, mas vejo que este ponto tem sido cada vez mais tranquilo para as empresas em virtude da atuação de movimentos que estão comprometidas em fomentar este processo, como a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, do qual o Alfa é membro. Para o Brasil, vejo um desafio grande em relação ao S, do ESG, isso porque o nosso ‘gap’ neste setor é muito grande e temos muito a desenvolver.”
ESG não é filantropia
Na mesma entrevista, a seguradora afirmou que muitas pessoas confundem ESG com filantropia e deliberou: “Muitas pessoas confundem ESG com filantropia, pois, acreditam que é um investimento que não haverá retorno financeiro, sendo que, na verdade, trata-se de um modelo que busca realizar negócios com consideração às questões ambientais e sociais, além do retorno financeiro. Pesquisas demonstram que os negócios que adicionam essas práticas têm tido maior lucratividade. Portanto, a agenda ESG é algo que trará questões positivas aos negócios das empresas, tanto sociais quanto econômicas, ao contrário da filantropia que normalmente traz benefícios educacionais, sociais e ambientais, porém, com ausência de retorno financeiro a curto e a longo prazo.”
Caminho sem volta
Por fim, a Alfa declarou que considera que o ESG é um caminho sem volta: “a jornada em busca do ESG é um novo olhar que todas as empresas devem ter e demonstrar comprometimento com os três pilares, para gerenciar os riscos e buscar oportunidades para avançar e buscar um equilíbrio nos negócios que não satisfaça apenas a questão financeira, mas que promova um compromisso com ações e impactos reais na vida da sociedade.”
A preservação dos recursos naturais gera ganhos financeiros
Sendo o Brasil um dos países com a maior biodiversidade de fauna e flora do planeta, todas as ações realizadas no sentido de proteger os ecossistemas brasileiros contra possíveis riscos são dignas de serem realizadas. Com diversos exemplos em todo o mundo, é possível afirmar que a evolução dos processos da iniciativa privada em relação à preservação de recursos naturais gera resultados mais favoráveis não somente para a sociedade e para as gerações futuras, mas para as próprias companhias, inclusive com ganhos financeiros.