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ecentemente, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) emitiu um alerta sobre o crescimento das ocorrências do golpe do "Pix errado". Esse golpe se aproveita do Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Banco Central, que foi implementado para facilitar a devolução de valores em casos de fraude ou erro. No entanto, criminosos estão explorando esse mecanismo para aplicar fraudes, lesando consumidores de forma dupla. Entre janeiro e julho deste ano, mais de 2,5 milhões de solicitações de devolução por fraude foram registradas, segundo o Banco Central, destacando a gravidade do problema.

Como o golpe é aplicado

O golpe do "Pix errado" ocorre de maneira engenhosa. Os criminosos obtêm o número de celular da vítima, geralmente usado como chave Pix, por meio de cadastros na internet ou em redes sociais. Em seguida, eles realizam uma transferência para a conta da vítima e entram em contato alegando ter enviado o dinheiro por engano, solicitando a devolução do valor. Convencida, a vítima devolve o montante, mas para uma conta diferente da original. Nesse momento, o golpista aciona o MED, alegando fraude, e recupera o valor original, deixando a vítima com o prejuízo da devolução e do montante retirado via MED. 

Com golpistas renovando suas abordagens a cada dia, o setor financeiro e o de seguros também precisa inovar nas medidas adotadas 

Com o avanço da digitalização, os golpes digitais também cresceram. De acordo com matéria divulgada no portal Finsiders Brasil, especializado na cobertura do ecossistema brasileiro de fintechs,  a preocupação dos bancos com fraudes digitais aumentou. Segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado pelo Banco Central em abril deste ano, o aumento da preocupação das instituições se deve à expansão da digitalização das atividades financeiras. 

Além dessa questão, a Febraban também alertou que criminosos têm atualizado golpes antigos, como o da falsa central telefônica, do motoboy e o golpe da mão fantasma. De acordo com a instituição, a melhor defesa contra esses golpes é a informação. Por isso, a Febraban e os bancos investem em campanhas de conscientização e esclarecimento, alcançando a população por meio de TVs, rádios e redes sociais. No entanto, como os golpistas estão renovando suas abordagens a cada dia, o setor financeiro e o de seguros também precisa renovar e/ou inovar nas medidas adotadas para conseguir proteger o consumidor.

“Fintechs estão crescendo e começando a ocupar um espaço anteriormente ocupado pelos intermediadores financeiros tradicionais, gerando impacto positivo em relação ao acesso ao crédito pelas PMEs” 

O avanço das fintechs transformou o acesso a serviços financeiros a tal ponto de deixar as instituições financeiras tradicionais se sentindo ameaçadas. Hoje em dia, é possível realizar uma ampla gama de transações pelo celular, eliminando a necessidade de ir ao banco, enfrentar filas e lidar com a burocracia tradicional. As fintechs trouxeram soluções que ampliam o acesso e promovem inovações necessárias para o consumidor moderno. Tanto que, de acordo com o trabalho acadêmico denominado “Avanço das FinTechs dentro do Sistema Financeiro Nacional e o impacto do acesso ao crédito pelas Pequenas e Médias Empresas”, essas empresas  “estão crescendo e começando a ocupar um espaço anteriormente ocupado pelos intermediadores financeiros tradicionais, gerando impacto positivo em relação ao acesso ao crédito pelas PMEs.” Tal fato é visível na introdução contínua de novas ferramentas e produtos financeiros, que facilitam a gestão das finanças pessoais e oferecem alternativas acessíveis para uma variedade de consumidores.

Impacto positivo das fintechs e insurtechs na organização e estabilidade financeira das pessoas

Paralelamente, a evolução das insurtechs tem provocado mudanças importantes na indústria de seguros. Essas empresas estão desenvolvendo produtos que se destacam pela personalização e flexibilidade, permitindo que os seguros sejam criados conforme as necessidades específicas dos clientes. Além disso, as insurtechs têm se concentrado em aumentar a eficiência dos processos, facilitando a contratação e gestão de apólices. Essa transformação na oferta de seguros reflete o impacto positivo das fintechs e insurtechs na organização e estabilidade financeira das pessoas, mas também traz consigo novos desafios, especialmente em termos de segurança e prevenção de fraudes.

Colaboração entre insurtechs, seguradoras e fintechs pode ser fundamental para enfrentar os desafios trazidos pelo avanço das fraudes

Por tudo isso, a colaboração entre insurtechs e fintechs pode ser fundamental para enfrentar os desafios trazidos pelo avanço das fraudes. Uma abordagem estratégica é o desenvolvimento de produtos de seguro que ofereçam proteção específica contra golpes envolvendo o Pix. Por exemplo, uma apólice que cubra o prejuízo de um cliente que, ao cair em um golpe, devolve o valor recebido a uma conta errada e posteriormente é vítima de fraude pelo MED. Esse tipo de seguro poderia automatizar o processo de reembolso ao cliente, reduzindo a burocracia e o tempo de espera, e oferecendo uma solução prática para um problema crescente.

IA para avaliar o comportamento financeiro dos consumidores e ajustar o preço dos seguros conforme o risco identificado

Outro aspecto interessante na prevenção de fraudes é a análise de risco e precificação baseada no comportamento do cliente. Insurtechs podem usar inteligência artificial para avaliar o comportamento financeiro dos consumidores e ajustar o preço dos seguros conforme o risco identificado. Por exemplo, um cliente que realiza transações Pix com frequência pode ter seu comportamento monitorado para identificar padrões anômalos. Se houver um desvio, como uma série de devoluções para contas desconhecidas, o sistema pode alertar tanto o cliente quanto a seguradora sobre o risco elevado, permitindo ajustes no prêmio do seguro ou a oferta de produtos adicionais de proteção.

Automação e aprendizado de máquina para acelerar a resolução de sinistros relacionados a golpes

A agilidade no processamento de sinistros também é essencial para mitigar os impactos financeiros de fraudes. Insurtechs, utilizando automação e aprendizado de máquina, podem acelerar a resolução de sinistros relacionados a golpes, garantindo que os clientes recebam a indenização de forma rápida. A integração entre fintechs e insurtechs poderia permitir que a insurtech acessasse automaticamente os dados de transações suspeitas, validando rapidamente a reivindicação de fraude e liberando a indenização quase imediatamente. Esse contraste com o processo tradicional de seguros, que muitas vezes é lento e burocrático, mostra o potencial da tecnologia para melhorar a experiência do cliente em momentos críticos.

Desenvolvimento de plataformas integradas aos sistemas das fintechs para monitorar transações em tempo real

A inovação tecnológica continua sendo uma aliada poderosa na luta contra fraudes. Insurtechs podem desenvolver plataformas integradas aos sistemas das fintechs para monitorar transações em tempo real, detectando comportamentos atípicos, como devoluções para contas que não são as originais. A detecção precoce de atividades suspeitas e a possibilidade de bloquear temporariamente transações podem impedir que golpes sejam concluídos, proporcionando uma camada adicional de segurança para os clientes.

Ao compartilhar informações sobre transações e comportamento do cliente, seguradoras e fintechs podem desenvolver algoritmos sofisticados para prever a probabilidade de fraude. Por exemplo, se um cliente realizar uma devolução de Pix para uma conta que nunca havia transacionado antes, o modelo de risco poderia identificar essa ação como de alto risco e ativar medidas de proteção, como uma autenticação adicional antes de concluir a transação.

Fundos de garantia específicos para proteção em circunstâncias inesperadas

A criação de fundos de garantia específicos para cobrir prejuízos causados por fraudes Pix pode ser uma solução prática que pode ser implementada através da colaboração entre seguradoras e fintechs. Esses fundos poderiam ser ativados para indenizar rapidamente as vítimas de golpes, mesmo aquelas que não possuem seguros específicos para esse tipo de situação. Além de oferecer uma proteção adicional, essa medida fortalece a confiança no sistema de pagamentos digitais, uma vez que os consumidores saberão que estarão protegidos mesmo em circunstâncias inesperadas.

A união de forças pode oferecer soluções imediatas

A crescente ocorrência de fraudes relacionadas ao Pix, como o golpe do "Pix errado", demonstra a necessidade urgente de uma abordagem inovadora e colaborativa entre fintechs e seguradoras. A integração de tecnologia avançada, como inteligência artificial e automação, juntamente com a criação de produtos de seguros específicos e a formação de fundos de garantia, são passos fundamentais para proteger o consumidor de golpes digitais cada vez mais sofisticados. A união dessas forças pode oferecer soluções imediatas para os problemas atuais e preparar o terreno para que a inovação continue a avançar sem sacrificar a confiança do público. A evolução das fintechs e insurtechs está em curso e a plena realização dependerá da capacidade dessas indústrias trabalharem juntas para a criação de um ecossistema financeiro mais seguro.

Postado em
22/8/2024
 na categoria
Inovação

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