nimação apresenta idoso como protagonista
A animação da Disney, Up: Altas Aventuras (2009) acompanha a vida de Carl Fredricksen, um idoso que embarca em uma jornada rumo às Cataratas do Paraíso, sonho compartilhado com sua falecida esposa. Carl, um senhor de 78 anos, enfrenta um mundo que parece não ter mais espaço para ele. A burocracia quer tirá-lo de sua casa, sua opinião é ignorada e sua capacidade de viver novas aventuras é subestimada. Contrariando as expectativas, ele decide desafiar essas barreiras e experimentar uma aventura inusitada, provando que a idade não deve ser um limitador para novas vivências. Para isso, ele prende milhares de balões à sua casa e parte em uma jornada em direção ao seu destino. Fora da ficção, pessoas na vida real enfrentam preconceitos de diversas formas. No setor de seguros, por exemplo, essa realidade pode ser encontrada na dificuldade de contratação de serviços financeiros, planos de saúde e apólices de vida.
Etarismo velado em Hollywood e o Oscar de 2025
A animação da Pixar levanta reflexões sobre como o envelhecimento pode ser sinônimo de invisibilidade em um mundo que valoriza a juventude acima de tudo. Essa mesma lógica parece se repetir de forma concreta em Hollywood. Recentemente, o Oscar 2025 provocou debates sobre o possível etarismo da academia após a vitória da jovem atriz Mikey Madison, de 25 anos, sobre as favoritas Demi Moore, de 62, e a brasileira Fernanda Torres, de 59, com o aclamado pela crítica, Ainda Estou Aqui. A escolha da academia gerou fortes críticas na internet, levando a palavra “etarismo” a atingir um pico de buscas no Google. O filme A Substância, protagonizado por Moore, e que aborda temas como o envelhecimento e a pressão estética sobre mulheres no cinema, acabou sendo um reflexo da própria realidade de Hollywood. Na trama, uma atriz veterana se submete a um procedimento para rejuvenescer e continuar relevante no meio artístico. A ironia do enredo em relação ao resultado do Oscar não passou despercebida pelo público, reacendendo discussões sobre a dificuldade que atrizes mais velhas enfrentam para obter reconhecimento na indústria cinematográfica.
Falta de inclusão no mercado e etarismo econômico
O envelhecimento populacional é uma realidade no mundo todo, e no Brasil, os desafios econômicos enfrentados pela população idosa têm elevado as discussões sobre o etarismo. De acordo uma matéria do O Globo, embora a qualidade de vida tenha melhorado em vários aspectos, os custos com saúde, lazer e bem-estar tendem a aumentar com a idade, enquanto o poder de compra, especialmente dos aposentados, diminui. No mercado de consumo e financeiro, essa parcela da população frequentemente se depara com barreiras. Planos de saúde, apesar da legislação garantir acesso sem discriminação por idade, tornam-se cada vez mais caros, o que dificulta a adesão de idosos. Muitos idosos enfrentam dificuldades na obtenção de crédito, no acesso a financiamentos e até na contratação de seguros, refletindo um mercado que ainda não se adaptou plenamente ao envelhecimento populacional. O Censo 2022 do IBGE revelou um crescimento de 57,4% no número de brasileiros com 65 anos ou mais em apenas 12 anos, evidenciando que essa parcela da população continuará a expandir. Apesar disso, a inclusão financeira e o acesso a serviços básicos ainda são obstáculos, fato que reforça a necessidade de políticas e práticas que garantam maior equidade para os idosos no mercado de consumo.
Colaboração entre gerações pode ajudar a diminuir o preconceito
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST), a discriminação etária tende a marginalizar profissionais experientes e desconsiderar o valor que podem agregar, inclusive no diálogo com a Geração Z, que também enfrenta desafios no mercado de trabalho. Conforme divulgado no portal do TST, Andrea Tenuta, especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão, explica que o etarismo se baseia em três pilares: estereótipos (pensamentos), preconceito (sentimentos) e discriminação (ações). No ambiente corporativo, isso se reflete na preferência por candidatos mais jovens, na falta de desenvolvimento profissional para trabalhadores maduros e na desvalorização de sua experiência. O Brasil passa por um rápido envelhecimento populacional, e empresas precisam se adaptar a essa nova realidade. Para a especialista, mesmo com 27% da população tendo mais de 50 anos, a presença desse grupo no mercado de trabalho ainda é reduzida. Contudo, a coexistência de Baby Boomers, Geração X, Millennials e Geração Z no mesmo espaço profissional pode impulsionar a inovação e a troca de conhecimento, desde que haja empatia e colaboração entre gerações, segundo Tenuta.
Influência da idade nas apólices
A idade tem uma grande influência nas apólices de seguro, impactando tanto o preço quanto a aceitação do contrato. No caso do seguro auto, por exemplo, os idosos costumam pagar menos devido ao perfil mais prudente e à menor frequência de uso do veículo. No entanto, essa lógica não se aplica a todas as modalidades de seguro, e, em muitos casos, a idade se torna um fator discriminatório no setor. O etarismo no mercado segurador se manifesta quando a idade é usada como critério determinante para definir preços ou até mesmo negar a contratação de serviços, sem considerar aspectos individuais, como histórico de saúde e hábitos de vida. Essa prática é comum em seguros de vida, planos de saúde e seguros de viagem, onde os custos podem se tornar proibitivos para pessoas mais velhas. Embora seja natural que seguradoras analisem riscos com base em estatísticas, a generalização pode levar a injustiças, excluindo idosos que mantêm uma boa condição de saúde e um perfil de risco favorável. Com a estimativa da ONU de que, até 2050, uma em cada seis pessoas terá mais de 65 anos, o setor de seguros precisa adaptar suas estratégias para oferecer produtos e práticas mais inclusivas. O desafio é equilibrar os riscos financeiros com soluções que garantam acessibilidade e proteção adequada para essa parcela da população, evitando que o critério etário se torne uma barreira injusta para a contratação de serviços essenciais.
Discussões e mudanças legislativas em prol da pessoa idosa
Alguns projetos de lei correm em tramitação na Câmara dos Deputados propondo medidas para combater o etarismo e garantir a inclusão da população idosa. O Projeto de Lei 2617/24 propõe medidas para prevenir e punir a discriminação baseada na idade. A proposta está em análise e busca enfrentar o idadismo (preconceito relacionado à idade) e o etarismo (discriminação contra idosos) por meio de iniciativas educativas, ações preventivas e o endurecimento das penalidades. Entre essas iniciativas, está a criação de programas de prevenção ao etarismo em unidades de saúde e a valorização de experiências intergeracionais no mercado de trabalho. Além disso, guias de direitos do consumidor têm sido divulgados para conscientizar idosos sobre seus direitos em serviços financeiros e de saúde, incluindo seguros. O aumento da conscientização é um passo importante para reduzir as barreiras impostas pelo etarismo e pressionar empresas a adotarem práticas mais inclusivas.
Como tornar o seguro mais inclusivo
Para que o setor segurador possa atender de forma mais justa a população idosa, algumas medidas são fundamentais. É pertinente reavaliar os critérios de precificação para que a idade não seja o único fator determinante nos valores das apólices. Desenvolver seguros que levem em conta as necessidades reais dos idosos, considerando, além da idade, históricos de saúde e estilo de vida. Seguros de vida com cobertura estendida, planos de saúde com redes especializadas e seguros de viagem acessíveis são algumas soluções possíveis. Modelos de precificação baseados em comportamento e uso, como os aplicados no seguro automotivo por telemetria, poderiam ser adaptados para outras áreas. Outro ponto é treinar corretores e atendentes para que compreendam as necessidades dos clientes idosos, evitando tratamento discriminatório e garantindo uma experiência de atendimento mais empática e eficaz.
Uso de tecnologia para benefício dos idosos
A computação em nuvem e os sensores de IoT podem facilitar a personalização de seguros de vida e saúde, além de aprimorar a análise de riscos, contribuindo para combater a discriminação etária. Com o envelhecimento da população, oferecer seguros personalizados se torna um desafio, já que os idosos apresentam diversas condições de saúde e estilos de vida. Ferramentas como a GenAI auxiliam corretores a acessar informações em tempo real, melhorando o atendimento. A IoT, através de dispositivos conectados, promove a medicina preventiva, permitindo que seguradoras ajustem seus produtos às necessidades dos idosos. Essa integração tecnológica por parte das seguradoras pode melhorar a saúde e o bem-estar da população idosa, priorizando o cuidado e a prevenção, e se adaptando ao quadro demográfico em mudança.
Quebrando barreiras para um setor que busca valorizar a inclusão
O etarismo na indústria do entretenimento reflete um desafio maior enfrentado pela população idosa na sociedade hoje em dia. A história de Carl Fredricksen nos lembra que a idade não define a capacidade ou o potencial, e que a exclusão desse público é o reflexo de uma visão baseada em estereótipos ultrapassados. No mercado segurador, é essencial que essa mensagem seja refletida em práticas mais inclusivas. O combate ao etarismo passa pela conscientização, inovação e adoção de estratégias que garantam acesso justo aos serviços financeiros, bem como a acessibilidade e atendimento humanizado. Nesse sentido, os players de seguros devem aproveitar a oportunidade para contornar essa realidade, investindo em tecnologia, educação financeira e práticas mais equitativas, construindo um ambiente onde a longevidade seja valorizada. Afinal, envelhecer é um privilégio, e garantir direitos e acessibilidade a todas as idades deve ser um compromisso não só do ramo de seguros, mas de toda a sociedade.