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os últimos anos, o debate sobre o futuro da mobilidade urbana ganhou destaque, impulsionado pela necessidade de criar soluções mais eficientes para o transporte de pessoas e para as operações nas grandes cidades. O aumento da população, as preocupações ambientais e os avanços tecnológicos abriram novas perspectivas para a mobilidade, levando à busca por alternativas mais sustentáveis. A mobilidade elétrica se tornou um exemplo evidente dessa transformação. No Brasil, a frota de veículos eletrificados ultrapassou a marca de 126 mil unidades em 2022, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Embora ainda representem uma fração da frota nacional, esses veículos têm crescido rapidamente e apresentado desafios que vão além do transporte em si, exigindo adaptações em setores como o de seguros.

Veículos elétricos podem representar 55% das vendas de novos automóveis

De acordo com o estudo da McKinsey "Acelerando a mudança rumo à Mobilidade Sustentável no Brasil",  o país tem um grande potencial para adotar veículos elétricos em larga escala. Para que isso se torne realidade, no entanto, será necessário reestruturar tanto a infraestrutura urbana quanto a indústria automotiva. O relatório estima que, até 2040, o Brasil poderá contar com uma frota de 11 milhões de veículos elétricos, representando 55% das vendas de novos automóveis. Esse crescimento geraria uma receita anual de US$65 bilhões. A expansão será impulsionada pelo crescimento da conscientização ambiental dos consumidores brasileiros, embora fatores estruturais, como a ampliação da rede de recarga e a criação de políticas públicas, sejam fundamentais para sustentar esse avanço.

Brasileiro é mais sensível do que outras nacionalidades às questões sustentáveis e à mobilidade elétrica

A pesquisa também apontou que a maioria residentes de grandes centros urbanos, revelou que os consumidores do país têm uma sensibilidade maior às questões de sustentabilidade e mobilidade elétrica em comparação a outras nacionalidades. Enquanto a média global é de 33%, no Brasil, 44% dos entrevistados estão em busca de alternativas sustentáveis para seus deslocamentos diários. No entanto, apesar desse interesse crescente, há barreiras que dificultam a adoção em massa dos veículos elétricos. O custo elevado e a falta de infraestrutura de recarga, sobretudo em viagens longas, são preocupações que precisam ser resolvidas para acelerar essa transição.

Quando questionados sobre a intenção de compra, 26% dos entrevistados afirmaram que o próximo veículo que adquirirem será sustentável, com 15% optando por carros movidos a bateria elétrica e 11% por híbridos. Esses dados indicam que há uma disposição clara para a adoção de veículos mais limpos, mas o mercado precisa enfrentar desafios práticos como acessibilidade e infraestrutura de recarga.

Mais da metade dos brasileiros pesquisados estão dispostos a pagar até 20% a mais por carros elétricos

Ainda segundo a pesquisa, mais da metade dos entrevistados demonstraram disposição para pagar entre 5% e 20% a mais por um carro elétrico em comparação a veículos tradicionais, o que ressalta o apelo desses modelos. No entanto, para muitos, o preço de aquisição continua sendo uma das maiores preocupações. Cerca de 40% dos participantes destacaram o custo elevado como uma barreira significativa à compra de veículos elétricos.

O custo dos veículos elétricos tem tendência a diminuir

A projeção é de que, até 2030, o TCO dos veículos elétricos se torne ainda mais competitivo, abrangendo não apenas os modelos de uso intensivo, mas também os comerciais e de uso pessoal com menores quilometragens diárias. Isso significa que a barreira econômica será gradualmente reduzida, à medida que a produção em escala aumentar, levando a uma diminuição dos preços dos componentes, como as baterias.

Novas tecnologias para carros elétricos

O desenvolvimento de novas tecnologias também está em ritmo acelerado. Veículos autônomos, por exemplo, já utilizam inteligência artificial e sensores avançados para operar de forma independente. A automação é dividida em cinco níveis, que vão desde a total dependência do motorista até o nível 5, no qual o carro é completamente autônomo. Esse tipo de tecnologia promete reduzir acidentes de trânsito e otimizar o fluxo de tráfego nas cidades.

Outra inovação que está ganhando força é o uso de energia solar em carros elétricos. No Reino Unido, pesquisas estão sendo feitas para transformar veículos elétricos em geradores móveis de energia solar, o que pode diminuir ainda mais a dependência de fontes de energia tradicionais.

Evolução na segurança das baterias dos carros elétricos

A segurança das baterias dos veículos elétricos também está evoluindo. Embora o risco de incêndio seja menor do que em veículos movidos a combustão, quando ocorrem, esses incêndios são difíceis de controlar. Empresas como a startup americana 24M estão desenvolvendo tecnologias que previnem esses acidentes, como o separador de bateria Impervio, que impede o superaquecimento das células. A LG Chem, por sua vez, criou uma camada de segurança sensível à temperatura que atua como um fusível, interrompendo o fluxo de eletricidade em caso de superaquecimento.

Mais transformações na mobilidade urbana: brasileiro está trocando ônibus por carro e aplicativos de transporte

O transporte público no Brasil tem perdido espaço para veículos particulares e aplicativos de transporte, como apontou a Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana 2024, realizada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT). O estudo, que avaliou os hábitos de deslocamento em cidades com mais de cem mil habitantes, revela uma crescente adesão às alternativas de transporte individual, como veículos próprios e viagens por aplicativos, em detrimento do transporte público tradicional. Entre os principais destaques está o crescimento do uso de aplicativos de transporte, como Uber e 99. Em 2017, apenas 1% dos entrevistados utilizava esse tipo de serviço, mas em 2024 esse número saltou para 11,1%, indicando uma mudança nas preferências de mobilidade dos brasileiros. O uso de veículos próprios também aumentou, enquanto os deslocamentos a pé e de metrô permaneceram estáveis. 

Aplicativo de transporte disponibilizou carros elétricos e híbridos

A Uber, que celebrou 10 anos de operação no Brasil, também realizou uma pesquisa em parceria com o Instituto Datafolha. Ao todo, foram entrevistadas 2.247 pessoas acima dos 18 anos em 120 cidades de todas as regiões. A pesquisa apontou que 92% dos entrevistados afirmaram que os aplicativos trouxeram mais conforto para o transporte urbano e 90% destacaram o aumento no acesso a opções de qualidade. Além disso, em termos de sustentabilidade, a Uber lançou a categoria Uber Green, que permite aos usuários solicitar viagens em veículos elétricos, refletindo o compromisso da empresa com a redução de emissões de carbono. A meta da Uber é que 100% das viagens na plataforma sejam realizadas com veículos de zero emissões até 2040.

Programa para ampliar mobilidade verde e descarbonização 

Para contribuir com esse movimento de transformação, o governo federal lançou o programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) no final do ano passado, que visa aumentar as exigências de sustentabilidade na frota automotiva e estimular a criação de tecnologias inovadoras em mobilidade e logística. O Mover expande o escopo do programa Rota 2030, incluindo incentivos fiscais para veículos que poluem menos, como o IPI Verde, e promovendo o uso de tecnologias avançadas, como os veículos autônomos e a eletromobilidade.

Meta é que até 30% dos novos veículos vendidos no Brasil sejam elétricos ou híbridos até 2030

Entre as metas do Mover, destaca-se a previsão de que, até 2030, entre 10% e 30% dos novos veículos vendidos no Brasil sejam elétricos ou híbridos. Para isso, o programa incentiva a ampliação da infraestrutura de recarga e o uso de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT) para a gestão eficiente das frotas e a redução de consumo de combustíveis.

A criação do Mover é fundamental, já que o Brasil também busca cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030, que incluem metas ambientais e sociais. O programa oferece um caminho para que a indústria automotiva brasileira invista em inovação, tornando os veículos mais eficientes e ambientalmente responsáveis.

O papel dos seguros no futuro da mobilidade urbana brasileira

Com todas essas transformações, o papel dos seguros na mobilidade urbana também precisará evoluir. Veículos inteligentes e conectados demandarão apólices adaptadas às novas realidades tecnológicas. Além de cobrir acidentes e roubos, as seguradoras terão que lidar com falhas de sistemas autônomos, ataques cibernéticos e até problemas relacionados à inteligência artificial. A questão da responsabilidade em caso de acidentes com veículos autônomos, por exemplo, levanta questões sobre quem será responsabilizado: o proprietário, o fabricante ou o desenvolvedor de software.

A popularização dos carros elétricos e híbridos também gera novas demandas, como a necessidade de cobertura específica para baterias, que são componentes caros. A própria infraestrutura de recarga deverá ser contemplada pelas apólices, já que ela se tornará parte essencial do funcionamento dos veículos.

Os seguros deverão estar alguns passos à frente em termos de tecnologia para conseguir fornecer amparo financeiro 

As seguradoras terão, assim, um papel fundamental na viabilização desse novo modelo de mobilidade. Elas poderão atuar de forma preventiva, utilizando dados gerados pelos veículos para monitorar o comportamento dos motoristas e avaliar as condições das vias, calculando riscos de maneira personalizada. Esse modelo mais proativo permitirá que as seguradoras ajudem a prevenir problemas antes que eles ocorram. Portanto, conforme a mobilidade urbana se transforma, com a incorporação de novas tecnologias e a busca por sustentabilidade, os seguros precisarão reestruturar alguns produtos e lançar alguns novos para conseguir garantir a segurança dos veículos e dos usuários. Se o futuro da mobilidade urbana será marcado por veículos mais inteligentes e conectados, nada mais natural que a rede de proteção financeira desses veículos precise estar alguns passos à frente em termos de tecnologia para conseguir fornecer o amparo. Assim deve ser o papel do seguro no futuro da mobilidade urbana.

Postado em
18/10/2024
 na categoria
Tecnologia

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