uézide Cunha não pôde cursar faculdade, mas aprendeu a empreender na prática. O mineiro foi de estoquista a sócio majoritário de uma livraria, transformando o negócio com suas ideias, até que decidiu empreender com tecnologia. Notando a grande quantidade de brasileiros que não conseguem arcar com o seguro para automóveis, ele fundou a Loovi, insurtech que oferece planos a preços fixos, com foco nas classes C, D e E.
Cunha conheceu o empreendedorismo ainda na infância, quando ajudava a avó vendendo e fazendo as entregas dos sabões caseiros que ela produzia. Morador de Ribeirão das Neves, periferia da região metropolitana de Belo Horizonte, o primeiro emprego veio na adolescência, aos 14 anos, como estoquista em uma livraria evangélica. Ele conta que não escolheu aquele trabalho, mas agarrou a oportunidade.
Três anos mais tarde, depois de já ter sido promovido algumas vezes, decidiu se candidatar a uma vaga de subgerente em outra cidade — Governador Valadares, a 314 quilômetros da capital. Cunha nunca havia saído de casa sem pedir permissão para a mãe. “Avisei que estava de mudança, peguei o primeiro ônibus e fui. Cheguei às cinco da manhã sem saber o que iria fazer, como iria me estruturar. A empresa permitiu que eu dormisse no estoque”, relembra.
Ele continuou sendo promovido até que tornou-se sócio majoritário da empresa ao comprar parte dela. Na liderança, resolveu transformar o modelo de negócios da companhia em atacarejo e investir na produção própria de títulos como forma de aumentar as margens de lucro. “Por uma década, fomos o maior distribuidor independente de Bíblia da América Latina”, conta. As sete lojas, distribuídas entre Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais, distribuíam e atendiam o varejo.
Com o sucesso nas vendas, Cunha percebeu que teria dois caminhos a seguir: ou aumentava a rede de livrarias ou encontrava outra forma de investir. Ele decidiu entrar em um nicho que pudesse ser mais escalável e encontrou a tecnologia. O empreendedor tirou alguns meses para estudar o mercado e foi atraído pelas oportunidades do segmento de seguros. Segundo dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg), apenas 30% dos carros que circulam no Brasil tinham cobertura de seguro veicular em 2021.
Decidido a estudar sobre mobilidade, Cunha se mudou para a China e morou lá por um ano, conhecendo as iniciativas tecnológicas que surgiam no país. “Foi um ano que valeu por 10. Tinha demanda de trabalho para o dia todo, um interesse deles para entender o nosso mercado e mostrar o que estão fazendo. Entendi o que faria sentido no Brasil e tropicalizei um produto para trazer como alternativa para quem não tem seguro”, afirma.
A Loovi nasceu a partir da importação de uma tecnologia chinesa (com homologação na Anatel) de rastreamento — com o incremento de serviços que conversam com o público brasileiro. “Não faria sentido oferecer só a telemetria (medição de dados de maneira remota, sistema que coleta dados como velocidade, consumo de combustível e localização). O cliente quer assistência 24 horas, quer solução para furto e roubo, porque são comuns no Brasil. Agregamos serviços e, em vez de entregar só rastreamento, entregamos uma solução completa”, diz. O investimento inicial foi de R$ 22 milhões.
O público-alvo da insurtech são as classes C, D e E, e os seguros são oferecidos a preços fixos, independentemente da marca, do modelo ou do ano de fabricação do carro. Na Loovi, o cliente escolhe o tipo de cobertura que quer receber e paga um valor tabelado. A cobertura simples custa R$ 69,90 por mês, e a mais completa R$ 121,25 mensais. Atualmente, a startup está presente em mais de 1.500 cidades do Brasil, com a maior base de clientes em São Paulo.
O MVP, lançado em 2019, mostrou que havia demanda o empreendedor conta que, em um dia, foram vendidas mil assinaturas. Toda a jornada é digital, da compra ao acionamento em caso de ocorrência, via app. Para aqueles clientes que ainda não sentem confiança para fazer aquisições importantes no ambiente virtual, a Loovi criou microfranquias em 2021. “Me doía muito ver leads perdidos porque o cliente não conseguia completar a jornada digital por mais simples que fosse. Vi que era uma grande oportunidade”, conta.
Cunha afirma que o projeto é uma forma de ofertar profissionalização para pessoas desassistidas. A microfranquia é financiada pela própria Loovi e o interessado quita o valor (R$ 9,9 mil) conforme trabalha. Segundo o empreendedor, 22 franquias já foram vendidas e a meta é chegar às 300 neste ano. Os franqueados são capacitados para entrar em contato com clientes que não terminaram a jornada para tirar dúvidas, além de também poder captar novos leads, recebendo comissão a cada contrato fechado na plataforma.
A insurtech também espera captar a sua primeira rodada de investimento em 2023. As conversas com fundos já foram iniciadas para, inicialmente, levantar uma rodada seed e, em um ano, preparar a Série A. “Vamos chegar maduros. Não serão recursos para fazer testes, já podemos mostrar que a empresa precisa escalar”, conclui. Ainda no primeiro trimestre do ano, a Loovi vai dar início a uma parceria com a Gringo, ofertando o seguro para os 6 milhões de clientes da startup especializada na gestão de documentos de veículos para pessoas físicas.