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digitalização do setor de seguros tem ampliado a oferta de produtos personalizados e permitido a entrada de novos participantes no mercado. No entanto, as normas regulatórias estabelecem limites para essa inovação, criando um ambiente em que empresas precisam equilibrar criatividade e conformidade. O modelo Insurance as a Service propõe uma nova abordagem, desafiando a ideia de que apenas seguradoras tradicionais podem distribuir apólices e abrindo espaço para soluções oferecidas por diferentes agentes.

Pedro Pires, CEO da Split Risk Seguradora

Para entender melhor esse cenário, conversamos com Pedro Pires, CEO da Split Risk Seguradora. Ele compartilhou sua visão sobre como a regulação impacta o desenvolvimento do setor, os desafios e oportunidades do modelo Insurance as a Service, os limites entre democratização e controle de qualidade e o papel do Sandbox da SUSEP no incentivo à inovação. Além disso, discutimos o futuro do mercado de seguros no Brasil e quais fatores podem impulsionar mudanças estruturais no setor. Confira as ideias do executivo sobre esses assuntos abaixo:

Insurtalks: A inovação pode se tornar um desafio burocrático no mercado de seguros devido ao alto nível de regulação do setor. Há algo que a Split Risk gostaria de fazer hoje, mas que as normas ainda não permitem? Como vocês lidam com essas limitações?

Pedro Pires: Acredito que, no passado, as condições eram mais desafiadoras para projetos inovadores do que hoje. Desde a criação do Sandbox em 2020 e, posteriormente, dos Representantes de Seguros (MGA), a relação com o regulador se tornou mais ajustada. Um exemplo disso é o grande número de novas seguradoras, MGAs e corretores que surgiram, ultrapassando 140 mil entre pessoas jurídicas e físicas.

Com certeza, temos algumas iniciativas que gostaríamos de testar, mas que ainda carecem de outros elementos. O financiamento, por exemplo, ainda precisa ser aprimorado. Sinto falta de um banco de desenvolvimento e de outros agentes da indústria financeira apoiando a inovação no mercado de seguros. Inovar consome muitos recursos e, dentro de uma indústria onde o capital é intensivo por natureza, isso é algo que precisa evoluir. Acredito que nosso regulador (SUSEP) pode desempenhar um papel importante no futuro, aproximando nossa indústria de novos agentes que possam investir cada vez mais em bons projetos e, quem sabe, financiar o surgimento de novos.

Insurtalks: O Insurance-as-a-Service desafia a ideia tradicional de que apenas seguradoras estabelecidas podem oferecer apólices. Você acredita que esse modelo pode, no futuro, reduzir a dependência do setor de grandes players e redistribuir o poder dentro do mercado?

Pedro Pires: Acredito que esse modelo é o mais democrático possível para viabilizar o surgimento de novos projetos disruptivos dentro do mercado de seguros. Com o IaaS, os ganhos ocorrem tanto na potencialização de quem já atua na indústria, tornando suas estruturas mais leves, como também no estímulo ao nascimento de novos projetos, uma vez que o custo e o tempo para lançamento são significativamente reduzidos.

Os grandes players já detêm uma grande fatia de consumidores e acredito que isso será preservado. No entanto, os novos players agora têm a oportunidade de trazer novos segurados para a indústria. Acredito que essa é a maior fatia de potenciais consumidores, um verdadeiro oceano azul de oportunidades.

Insurtalks: A Split Risk atua com um modelo de negócios que permite a entrada de novos players por meio de franquias e soluções white label. Qual vocês consideram o limite entre democratizar o acesso ao mercado e manter um controle de qualidade que evite riscos para os segurados?

Pedro Pires: Acreditamos que é possível mudar a realidade atual, onde apenas uma minoria da população tem acesso a produtos de seguros. Para enfrentar esse grande desafio, apostamos no potencial dos empreendedores do nosso país. Ao comparar o número atual de corretores de seguros (menos de 150 mil) com outras indústrias, percebemos que ainda há muito espaço no mercado. Por exemplo, o Brasil possui mais de 1 milhão de advogados, mais de 500 mil corretores de imóveis e mais de 220 mil correspondentes bancários.

Por isso, apostamos fortemente na criação de produtos que empoderem os corretores de seguros e viabilizem o surgimento de novos franqueados e projetos de MGA. Para alcançar um número significativo de novos segurados, precisamos também de um número expressivo de novos distribuidores.

Insurtalks: Startups de tecnologia financeira costumam crescer em espaços não regulados e, depois, buscar sua validação junto às autoridades. Como o Sandbox da SUSEP influenciou a estratégia da Split Risk? Vocês acreditam que ter um ambiente controlado para testar inovações acelera ou limita a criatividade?

Pedro Pires: Com certeza, acelera e estimula o nascimento de novos projetos. Inovar não significa necessariamente criar algo inédito, mas sim encontrar maneiras mais eficientes de fazer algo, reduzindo custos e entregando mais valor. Para isso, é essencial criar um ambiente favorável. Estamos no caminho certo, com a administração pública focada em criar condições e dar espaço para que iniciativas privadas resolvam desafios do setor.

Insurtalks: A personalização de seguros via plataformas digitais permite oferecer produtos sob medida. A Split Risk acredita que o mercado brasileiro está pronto para esse nível de customização? Há algum desafio na adoção desse modelo que você queira compartilhar?

Pedro Pires: Acredito que estamos no início desse processo de empoderamento do consumidor. No entanto, essa evolução é natural e pode ser comparada com outras plataformas que se popularizaram e hoje fazem parte do dia a dia da maioria dos brasileiros, como as de comunicação, mobilidade urbana e contas bancárias digitais. No mercado de seguros, essa jornada também ocorrerá, embora de forma um pouco mais lenta. No entanto, é uma tendência inevitável.

Insurtalks: Olhando para o futuro, o que pode representar uma verdadeira disrupção no mercado de seguros no Brasil? Serão as mudanças regulatórias, os avanços tecnológicos ou a chegada de novos modelos de negócios que realmente vão transformar o setor?

Pedro Pires: Acredito fortemente em um Brasil de "Seguro para Todos". Para que isso aconteça, é necessário um movimento colaborativo entre reguladores, players atuais, novos players e parceiros de outras indústrias. Somos uma das maiores economias do mundo e, na minha opinião, temos as melhores condições para crescer aceleradamente nos próximos anos. Integrar a cultura da proteção patrimonial ao cotidiano da população, com o seguro desempenhando um papel ativo, faz todo o sentido para esse crescimento sustentável.

Postado em
5/3/2025
 na categoria
Inovação

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