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expansão dos veículos elétricos como alternativa viável e sustentável para a mobilidade já não é mais uma promessa distante. Estudos recentes apontam que os modelos elétricos modernos possuem uma durabilidade equivalente à dos veículos movidos a gasolina e diesel, contrariando o receio de que sua vida útil fosse reduzida devido ao desgaste das baterias. Segundo uma pesquisa conduzida por universidades do Reino Unido, Estados Unidos e Suíça, esses automóveis podem rodar cerca de 200 mil quilômetros antes de necessitarem de uma grande manutenção, o que aproxima sua longevidade da dos modelos convencionais. Além disso, a taxa de panes mecânicas nesses veículos apresentou uma queda anual de 12%, superando a redução observada nos modelos a combustão. 

Aumento da confiabilidade dos elétricos altera a lógica tradicional de precificação das apólices

Esses dados refletem a maturidade da tecnologia elétrica e indicam mudanças profundas na forma como o setor de seguros precisa lidar com esse segmento. O aumento da confiabilidade dos elétricos altera a lógica tradicional de precificação das apólices. A redução de falhas mecânicas e a maior durabilidade dos componentes afetam diretamente o cálculo dos riscos, potencialmente resultando em um redesenho dos produtos oferecidos pelas seguradoras. 

Vendas cresceram 200% até novembro de 2024 e aumento da adesão reforça a necessidade de adaptação do mercado

A crescente adesão a essa tecnologia por parte dos consumidores reforça a necessidade de adaptação do mercado. Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) indicam que as vendas de veículos eletrificados cresceram 200% até novembro de 2024. Somente em outubro, foram comercializadas mais de 16 mil unidades, um aumento de 21% em relação ao mês anterior e de 68% na comparação com outubro de 2023. Esse crescimento, impulsionado pelo fortalecimento da cadeia produtiva da eletromobilidade, mostra um mercado em expansão, exigindo ajustes na infraestrutura de recarga e também nas estratégias das seguradoras.

Possibilidade de viagem entre São Paulo e Mato Grosso sem recarga: automóveis apresentam um perfil de risco diferenciado

O avanço da tecnologia também ratifica a autonomia dos veículos elétricos, impactando diretamente as necessidades e desafios do setor segurador. O modelo ES EREV, da Exeed (marca do grupo Chery), promete uma autonomia de 1.645 quilômetros com uma única carga, o que supera a de diversos modelos a combustão e possibilitaria uma viagem entre São Paulo e Mato Grosso sem recarga. Essa nova realidade pode influenciar diretamente a forma como as seguradoras avaliam o risco de veículos elétricos em deslocamentos de longa distância, uma vez que a necessidade reduzida de paradas para recarga minimiza o tempo de exposição a potenciais imprevistos. Com menos interrupções e um funcionamento mais estável, esses automóveis podem apresentar um perfil de risco diferenciado, exigindo novas abordagens para a formulação das apólices.

Tecnologias como movimentação lateral e o carregamento autônomo também alteram as variáveis envolvidas na precificação dos seguros

Além da autonomia, o desenvolvimento de novas funcionalidades, como a movimentação lateral e o carregamento autônomo, também altera as variáveis envolvidas na precificação dos seguros. O Maextro S800, modelo elétrico de luxo desenvolvido pela Huawei em parceria com a JAC Motors, traz inovações que impactam diretamente o setor. O chamado “modo caranguejo”, que permite ao veículo deslocar-se lateralmente, reduz os riscos de colisão em espaços reduzidos, fator que pode levar as seguradoras a revisar os índices de sinistralidade para esse tipo de tecnologia. Já o carregamento autônomo, que possibilita ao veículo localizar e se conectar automaticamente a estações de recarga, minimiza riscos associados à manipulação incorreta de cabos e a falhas humanas durante o processo de recarga. Essa automação pode resultar em novas exigências técnicas para a cobertura de danos elétricos e ampliar a necessidade de cobertura para problemas de software.

Nova moto elétrica desenvolvida para mototáxi pode gerar novas demandas no setor de seguros

No segmento de motocicletas, o impacto da eletrificação também se faz presente: exemplo disso é a fabricante chinesa VMoto apresentou a VS4, uma moto elétrica projetada especificamente para mototáxis, capaz de percorrer até 200 quilômetros com uma única carga e atingir velocidade máxima de 90 km/h. A adoção de motocicletas elétricas para serviços de transporte urbano pode gerar novas demandas no setor de seguros, especialmente em relação a frotas utilizadas em plataformas de mobilidade. Esse modelo integra o EMS, um sistema de gerenciamento de frotas que permite o monitoramento remoto dos veículos e acesso a estações de recarga rápida e troca de baterias. Esse tipo de conectividade possibilita um acompanhamento mais preciso do estado da moto e do comportamento do condutor, o que pode ser um diferencial na definição de políticas de precificação e no desenvolvimento de seguros personalizados.

Seguradoras precisam avaliar as oportunidades que acompanham a eletrificação da mobilidade

Considerando essas evoluções, as seguradoras precisam avaliar cuidadosamente as oportunidades que acompanham a eletrificação da mobilidade. A maior longevidade dos veículos elétricos pode impactar a frequência de sinistros relacionados a falhas mecânicas, ao passo que novas tecnologias, como carregamento autônomo e direção assistida, introduzem variáveis que podem alterar o perfil de risco desses veículos. Modelos de precificação dinâmica, que levam em conta o uso real do veículo e seus sistemas de segurança avançados, podem se tornar uma alternativa viável para equilibrar custos e oferecer coberturas mais adequadas às necessidades dos consumidores.

Além disso, a conectividade dos veículos elétricos possibilita novas estratégias para as seguradoras, como a oferta de apólices baseadas na telemetria, que monitoram o comportamento do condutor em tempo real. Para motocicletas utilizadas em serviços de mototáxi, a implementação de seguros ajustáveis, que consideram o volume de uso e os padrões de condução, pode ser um caminho para tornar os produtos mais acessíveis e compatíveis com a nova realidade do setor.

Mudanças no mercado de mobilidade elétrica exigem das seguradoras um olhar atento para os impactos da inovação

As mudanças no mercado de mobilidade elétrica exigem das seguradoras um olhar atento para os impactos da inovação. Se, por um lado, a durabilidade e a automação podem reduzir sinistros tradicionais, por outro, novas questões surgem, como a proteção contra falhas de software, vulnerabilidades cibernéticas e custos elevados de reparo de componentes eletrônicos avançados. A adaptação do setor de seguros será um processo contínuo, impulsionado tanto pelo avanço tecnológico quanto pelo comportamento dos consumidores, que, cada vez mais, demonstram estar dispostos a abandonar os combustíveis fósseis em favor da eletrificação.

Postado em
3/2/2025
 na categoria
Tecnologia

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