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á poucos dias a Susep (Superintendência de Seguros Privados), órgão fiscalizador e regulador do mercado de seguros, publicou edital da 3ª edição do sandbox regulatório, programa que tem por objetivo selecionar projetos inovadores e sustentáveis, estimulando e aumentando a competição no mercado de seguros.

As empresas que tiverem seus projetos aprovados poderão atuar no ambiente experimental por até 36 meses. Além disso, elas poderão pedir a autorização definitiva para atuar no mercado segurador.

Em números, a Susep informa que do primeiro edital até abril de 2024 foram emitidos R$ 145,8 milhões em prêmios pelas empresas participantes do sandbox regulatório em diversos ramos, sendo os mais expressivos de:

  • automóvel
  • celular
  • notebooks
  • tablets
  • câmeras e outros aparelhos eletrônicos
  • assistência e outras coberturas, como o RCF-Auto (Responsabilidade Civil Facultativa para Auto)
  • acidentes pessoais.

Nos quatro primeiros meses de 2024, foram emitidos R$ 27,1 milhões em prêmios, o que representa quase 60% dos prêmios emitidos em todo o ano de 2023 (R$ 46 milhões). “Esse cenário é um sinal positivo tanto para as empresas participantes quanto para o setor segurador como um todo, impulsionando a inovação e a competitividade”, destaca Júlia Normande Lins, diretora de Infraestrutura de Mercado e Supervisão de Conduta do regulador.

Julia participou recentemente do Insurtech Brasil 2024, evento do segmento realizado em São Paulo, no qual anunciou o lançamento do novo edital. Na ocasião, a diretora avaliou que o ambiente regulatório “mais flexível” proporcionado pelo sandbox ajuda a viabilizar o acesso ao seguro por nichos da população que normalmente são excluídos do mercado financeiro. “Obviamente exigimos de uma participante do sandbox um projeto inovador e, para caracterizar um projeto inovador, tem vários quesitos que a Susep avalia. É por meio dessa aferição que conseguimos, por exemplo, permitir um ambiente que a seguradora em autorização temporária [para operar] vai se arriscar em alguns nichos que talvez ninguém fosse querer se arriscar, como os motoboys”.

De acordo com José Prado, organizador do Insurtech Brasil 2024 e presidente da ABInsurtech (Associação Brasileira das Insurtechs), as principais inovações dessas startups para os consumidores de seguros foram “agilizar o tempo de avaliação de sinistros [ocorrência do risco previsto em contrato, como o roubo do carro no seguro auto], tecnologias de combate à fraude e contratos baseados em pagamentos mensais, o que ajudou a incluir brasileiros”. Nesse sentido, ele conta que dados apurados pela Insurtech Brasil apontaram que 68% dos clientes das insurtechs do sandbox nunca tiveram seguros antes.

O que as insurtechs cobrem?

Veja abaixo quais seguros são comercializados pelas insurtechs que já passaram ou estão no sandbox regulatório:

A Píer, que vende seguros para celular e para carro, nasceu no sandbox e depois obteve a licença da Susep para operar como seguradora fora do ambiente regulatório experimental. Segundo Igor Mascarenhas, CEO da companhia, pesquisas internas mostram que mais de 50% dos clientes nunca haviam comprado um seguro na vida. Ele acredita que ainda há muito espaço para crescer, já que estimativas do mercado apontam que apenas 30% da frota automotiva brasileira têm seguro. Isso porque o seguro auto é o mais comprado pelos brasileiros. Para se ter uma ideia, somente esse ramo arrecadou R$ 22,68 bilhões do total de R$ 174,54 bilhões arrecadados em prêmios (valor pago pelo consumidor à seguradora ao adquirir o seguro) pelo mercado segurador inteiro nos primeiros cinco meses de 2024.

Na avaliação de Mascarenhas, o brasileiro tem sim interesse em contratar o seguro para o carro, chega muitas vezes a cotar, mas falta dinheiro para pagar. “Não é à toa que no Brasil temos um efeito muito próprio, que não encontramos paralelos tão claros quando olhamos para outras regiões no mundo, que são as associações de proteção veicular, instituições que trabalham à margem do regulador. Tem estimativas mostrando que é um mercado muito expressivo, que gira de R$ 5 a R$ 10 bilhões por ano, que foi construído exatamente nessa margem de clientes que não era atendidos para seguradoras.

“Essa demanda existe, os clientes querem contratar, o que falta são produtos acessíveis ou que sejam mais adequados para a realidade do consumidor”, comenta. Ele acredita que as insurtechs que operam no segmento auto, assim como a Píer, conseguem ser atrativas ao consumidor ao conseguir, com a ajuda da tecnologia, vender seguro “15% ou 20% mais barato que o menor preço do mercado”.

Para Nuno Vieira, sócio líder de seguros para a América Latina da consultoria EY, de fato o preço influencia muito para o consumidor decidir se compra ou não o seguro. “Por que hoje não se contrata mais seguro no Brasil? São duas questões essenciais: uma é a renda. O brasileiro só se protege mais se tiver patrimônio e tiver renda para se proteger. A segunda é a cultura. Já temos um patrimônio por vezes reduzido e não temos uma cultura muito forte de comprar seguro”, diz.

O papel das insurtechs

Segundo Vieira, as insurtechs ajudam a aumentar a participação do seguro na vida do brasileiro ao ampliar a distribuição com o uso da tecnologia, já que facilita o acesso do consumidor por meio de “um clique”. Além disso, a tecnologia também permite às empresas operarem de forma mais eficiente, reduzindo o custo, que chega ao consumidor na ponta. Inclusive os mais jovens. “O canal preferido dos clientes brasileiros para falar com as seguradoras é o WhatsApp. E o pessoal mais jovem, com idade até 35 ou 40 anos, está mais interessado em compartilhar dados em troca de preços mais convenientes”, acrescenta o sócio da EY ao citar uma pesquisa realizada pela consultoria no Brasil com mais de 1,2 mil pessoas em 2022.

O pesquisador do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da Fundação Getulio Vargas (FGV IISR), Gesner Oliveira, ressalta que o Brasil é o maior mercado de insurtechs da América Latina, com fatia de 60%, e deve continuar sendo o centro de inovação – até pela abertura do brasileiro a novidades.

“É um consumidor que toma com muita naturalidade um serviço completamente novo e que nunca experimentou antes. Alguém que está acostumado a fazer o seguro do carro sempre procurando um corretor agora pode fazer uma assinatura mensal, ter algo análogo a um serviço de streaming, no qual faz uma assinatura mensal e paga conforme usa”, observa Oliveira.

Mesmo sendo aberto a inovação e topando contratar produtos novos, o consumidor brasileiro deve ficar atento se o que está adquirindo não dará dor de cabeça. Vieira, da EY, alerta que a dica de ouro para evitar golpes é sempre checar se a empresa – seguradora ou insurtech – é registrada no órgão regulador, como a Susep ou a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

Postado em
26/7/2024
 na categoria
Insurtech

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