urante a pandemia, as tentativas de fraudes atingiram número recorde no Brasil: em 2021, foram 4,1 milhões de movimentações suspeitas de fraude, segundo o Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian. O alvo principal dos golpistas foi o segmento de bancos e cartões, com 2,3 milhões de tentativas de fraude, um aumento de 33,3% na comparação com o ano anterior. Já em 2022, o Brasil registrou 5,6 milhões de tentativas de fraudes no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro, de acordo com o Mapa da Fraude da ClearSale, empresa especialista em soluções de prevenção e gerenciamento de risco. O estudo exclusivo analisou 312,2 milhões de pedidos realizados no e-commerce brasileiro, feitos via pagamento por cartão de crédito, que totalizou R$5,8 bilhões em ações fraudulentas.
A cada nove segundos um brasileiro é vítima de fraude
Em abril deste ano, o Indicador de Tentativas de Fraude da Serasa Experian, apontou que o Brasil iniciou 2023 com mais de 284 mil tentativas de fraude de identidade. Apesar de ter havido uma queda de 24,2% em relação ao ano anterior, o número ainda é alto e indica que a cada 9 segundos um brasileiro é vítima dos fraudadores.
Fraude em seguros cresceu até 211% durante a pandemia
No panorama das tentativas de fraudes, o segmento de seguros teve um crescimento perigoso durante a pandemia: Uma pesquisa da Ituran Seguros indicou que golpes no qual a pessoa forja ter sido roubada ou furtada para conseguir o valor integral pago pelas seguradoras tiveram um aumento de 211%, só no Rio de Janeiro, durante o primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. O estado foi o que apresentou o maior índice de casos, superando inclusive São Paulo, onde foi registrado crescimento de 95% nas suspeitas de fraudes. O estudo, baseado em análises feitas em seus veículos 700 mil monitorados, indicou que a cada 100 sinistros ocorridos, em pelo menos 11 houve indícios de fraude.
Impacto da crise econômica nas fraudes em seguros
Mesmo que os players do mercado estejam cientes de que a fraude em seguros representa um desafio crescente, uma pesquisa do Insurance Post em colaboração com a LexisNexis Risk Solutions aponta para uma realidade ainda mais preocupante: a crise econômica pós-pandêmica pode levar ao aumento significativo das fraudes no setor de seguros. Segundo a pesquisa, a piora das condições econômicas resultou em efeitos colaterais inesperados, como o envolvimento de indivíduos que, em circunstâncias normais, não considerariam recorrer à fraude. Além disso, a crise ofereceu uma oportunidade para que fraudadores mais sofisticados evoluíssem e refinem suas estratégias, tornando ainda mais difícil para as seguradoras identificar e combater essas práticas ilícitas.
Condições econômicas continuarão a afetar os volumes de fraudes organizadas e oportunistas
A pesquisa revelou que a maioria esmagadora dos entrevistados, precisamente 94%, acredita que as atuais condições econômicas continuarão a afetar negativamente os volumes de fraudes organizadas e oportunistas. Esse aumento da atividade fraudulenta coloca uma pressão significativa sobre as seguradoras, que precisam lidar com perdas financeiras e prejuízos à sua reputação.
Abordagem multifacetada: soluções tecnológicas com a supervisão humana
Como proposta de solução, os entrevistados da pesquisa destacaram a importância de uma abordagem multifacetada para combater a fraude em seguros. Eles argumentam que é essencial combinar soluções tecnológicas inovadoras com a supervisão humana em diferentes níveis de suas operações. Segundo eles, investir em tecnologia avançada permitirá que as seguradoras aprimorem seus sistemas de detecção de fraudes, tornando-os mais ágeis e precisos na identificação de comportamentos suspeitos. Por outro lado, a supervisão humana proporciona um nível de análise e discernimento que os algoritmos automatizados ainda não conseguem replicar completamente.
Treinamento abrangente para capacitar funcionários
Dentro do escopo da abordagem multifacetada, os entrevistados apontaram ser imprescindível também o treinamento abrangente sobre fraudes para capacitar os funcionários a reconhecerem padrões suspeitos e agirem de forma adequada, colaborando com a prevenção de fraudes. Para os participantes da pesquisa, combinar as duas abordagens – a tecnologia avançada e a supervisão humana – com o treinamento abrangente para capacitar funcionários resulta em uma estratégia mais sólida e eficaz na luta contra a fraude em seguros.
Expectativa de investir em tecnologia que proporcione maior acesso a dados compartilhados
Segundo a pesquisa, quase metade dos entrevistados expressou desejo ou expectativa de investir em tecnologia que proporcione maior acesso a dados compartilhados nos próximos 24 meses. Fica claro que muitas seguradoras lutam para interceptar atividades fraudulentas durante os principais estágios da jornada do cliente. Nesse sentido, os apontamentos do estudo marcam um posicionamento crescente da indústria de seguros que está entre os setores que mais têm investido no uso da inteligência artificial (IA), tanto com o objetivo de rentabilidade quanto na prevenção de riscos.
IA’s generativas podem impactar fortemente a fraude em seguros
A pesquisa também aponta o ganho de popularidade, neste ano, das ferramentas generativas de IA, como ChatGPT e Google Bard e como essa crescente popularidade traz à tona questões sobre como essas tecnologias podem impactar o setor de seguros e, em particular, a fraude nesse campo. Como essas ferramentas são capazes de gerar texto e conteúdo de forma autônoma, imitando a linguagem humana em um nível impressionante, é esperado que causem impactos significativos no setor de seguros, tanto em relação à fraude quanto à sua prevenção. Por um lado, o avanço dessas ferramentas pode levar ao aumento da fraude, com a possibilidade de criação de documentos falsos, depoimentos fictícios e histórias de sinistros fraudulentos. Além disso, a imitação sofisticada de chatbots pode facilitar golpes de phishing e atendimentos enganosos.
Por outro lado, a IA generativa também pode ser uma aliada no combate à fraude, possibilitando a detecção e análise eficiente de padrões suspeitos nos dados, a verificação de autenticidade de documentos e a identificação em tempo real de comportamentos fraudulentos. Ao melhorar continuamente a detecção de fraudes e auxiliar na prevenção de ataques, essa tecnologia pode ajudar as seguradoras a proteger seus clientes e garantir a integridade do setor de seguros como um todo.
Incorporar soluções tecnológicas disruptivas, investir em treinamento e melhorar qualidade e eficiência das operações
Com as fraudes em seguros somando 50 bilhões na América Latina e girando em torno de 14% a 15% das receitas das seguradoras no Brasil é preciso buscar soluções urgentes. O relatório da pesquisa mencionada no texto demonstra que o futuro das seguradoras depende da capacidade de incorporar soluções tecnológicas disruptivas em suas estratégias de combate à fraude. Além disso, o estudo aponta que investir em treinamento abrangente sobre fraudes e soluções tecnológicas inovadoras permitirá ao setor aprimorar a prevenção de fraudes e melhorar a qualidade e eficiência de suas operações, beneficiando tanto as seguradoras quanto os segurados. Assim, os players de seguros estarão mais preparados para enfrentar os desafios impostos pelo atual cenário econômico e, ao mesmo tempo, para proteger o bem-estar financeiro das companhias e de seus clientes.